quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Fanfic "Change of Plans" Parte final

Mulder pôs suas mãos sobre a mão pequena de Scully, que ainda
comprimia seu peito ferido. Mas de repente, os sons começaram a cessar,
a desfalecer. O choro de Dana parecia estar cada vez mais longe. Depois
de alguns instantes de torpor e lembranças difusas que passavam em sua
mente, ele ouviu um baque surdo, como se alguém houvesse levado um tombo,
e abriu os olhos, assustado.

Mulder não sentia mais nada... Não sentia mais dor... O peito
parecia estar anestesiado sob a mão inerte de sua parceira. Ele a viu
caída a seu lado e levantou-se, com tal prontidão que era difícil
acreditar que havia sido atacado brutalmente há poucos minutos.

Tentou sentir a pulsação da agente, sem conseguir achar nenhum
batimento. Levantou a própria camisa e percebeu que seus cortes
começavam a cicatrizar, impedindo que ele perdesse mais sangue.
Aproximou-se dos lábios de Dana, tentando sentir sua respiração.
Nem sinal.

Não tinha idéia do que ocorrera, mas tinha um mau
pressentimento, uma sensação horrível de vazio. Então, com
um nó na garganta, se lembrou...

_ Não... não... Não, Scully! Não quero acreditar que você tenha feito
isso...

Ele apertava a mulher contra seu peito ensangüentado, chorando
de raiva. Não queria sair dali nunca mais. Sentia agora uma dor muito
maior do que a que sentira quando fora esfaqueado. Sentia a dor da
perda, como se um pedaço dele mesmo tivesse sido arrancado. Os olhos
azuis de Scully estavam abertos, mas não havia vida neles. Mulder os
fechou com as pontas dos dedos e beijou longamente a testa da parceira.

_ Por que fez isso comigo, Scully? Como pôde...

Mas as palavras de Mulder não adiantariam mais nada. Não trariam
Scully de volta. Como amava aquela mulher... como se arrependia de nunca
ter demonstrado isso sem metáforas, sem piadinhas, sem indiretas... Como
queria ter tido a coragem de dizer abertamente tudo o que sentia por ela,
ela que havia desistido de sua própria vida para salvá-lo...

Scully havia passado por uma experiência estranha no ano anterior
durante as investigações de um certo caso. Conhecera um homem, chamado
Alfred Fellig, que alegava não poder morrer por ter perdido sua chance,
por outra pessoa ter visto a face da morte em seu lugar. No fim das
contas, Scully foi baleada por acidente e estava à beira da morte quando
Fellig, ao seu lado, falou para ela fechar os olhos e segurou sua mão.

O homem acabara morrendo e Scully sobrevivera. Ela só se lembrava
do fotógrafo dizendo "não olhe pra ela, feche os olhos", e como ela
obedeceu. Mas não pensava na hipótese de Fellig ter tomado seu lugar,
de ela ter perdido sua chance de morrer.

Até porque não queria morrer. Havia conversado com Mulder uma vez
sobre o que tinha falado para o fotógrafo enquanto o investigava. Ela
acreditava que havia inúmeras coisas na vida as quais precisava aprender
e experimentar. O amor, por exemplo. E que quanto mais tempo tivesse,
melhor.

Pensando nisso, Mulder olhou tristemente para Scully e acariciou
seus cabelos ruivos. Queria poder dar-lhe toda felicidade do mundo, mas
desde que começaram a trabalhar juntos, tudo o que fez foi colocar sua
vida em risco. E, mesmo assim, ela nunca o abandonou. Estava sempre ao
seu lado o apoiando, arriscando sua carreira e até sua vida por ele.
Tomando a cruzada de seu parceiro como a sua própria. E nunca o culpava
por nada que acontecera com ela. Seu câncer, sua esterilidade, a perda
de sua irmã Melissa... Era tão forte e íntegra...

E isso era o que fazia Mulder amá-la ainda mais. Era isso e tudo
mais que ela fazia que a tornava indispensável. Tão importante quanto o
ar que Fox respirava. Perdê-la daquela maneira levava-o a pensar em
que significado teria a sua vida dali pra frente. O que ele faria com
a "vida eterna" que Scully o havia concedido? Não via sentido em mais
nada...

Já havia passado muito tempo, e Mulder ainda segurava Scully
em seus braços, no mesmo lugar, sem coragem de se mexer. Não tinha
forças pra agir. Apenas olhava para um ponto fixo no nada... Sentindo
o peso de Scully em seus braços e o peso da culpa em sua alma. Olhou
longamente para o rosto sereno da agente, sentindo seu coração
despedaçar...

"Scully... durante toda minha vida quis encontrar alguém como você.
Alguém em que eu pudesse confiar, me apoiar, sem reservas ou medo.
Encontrei. E durante sete anos você esteve ao meu lado, cuidando de
mim. Sequer tive a chance de confessar o quanto eu te amo, o quanto
eu preciso de você... Pois digo agora. Acredito que está aí,
olhando por mim, como sempre fez. Acredito que as almas permaneçam
vivas. São luz, calor... e sempre que olhar para as estrelas te
encontrarei lá. Confesso que sinto culpa. Não desejava que desse
sua vida por mim. Confesso que não vejo sentido em ir em frente sem
você. Mas quem disse que não está comigo? Sei que seu desejo seria
que eu seguisse em frente, e isso me dará forças pra continuar."

"Tenha a certeza de que não desistiu de sua vida em vão. Vou sentir
infinitamente sua falta. Terei momentos de fraqueza. Vou chorar muito,
como estou chorando agora. Então te peço que, sendo o anjo que sempre
foi pra mim, venha em meu amparo. Sei que sentirei sua presença.
Sentirei sim. Como estou sentindo bem agora. Porque amor tão forte
como este que sinto por você, transcende a barreira da morte. Te amo
eternamente. Te amo com tudo o que tenho. E acho que você sempre
soube. Porque nunca precisamos de palavras pra nos expressar. Meus
olhos diziam tudo. Tudo o que não tinha coragem de dizer com palavras.
E assim o faziam os seus. Seus lindos olhos azuis. Nunca os esquecerei.
Um dia nos encontraremos..."

Ao lado de Mulder, alguém, um vulto, envolto em um brilho
bastante forte ouvia com carinho as palavras que ele dizia. Era
Scully. Ela se inclinou e sussurrou no ouvido do agente, que
ainda amparava seu corpo:

"Não desisti de minha vida, Mulder. Simplesmente porque minha vida
é você. Siga em frente. Estarei a seu lado. Sempre."

Naquele momento, sem saber ao certo o porquê, Mulder sorriu.

Depois de alguns minutos, uma equipe de agentes federais os
encontrou. Skinner vinha à frente deles.

_ Mulder, você está bem? A agente Scully nos contatou há meia hora,
dizendo sua localização... O que houve com ela?!_ perguntou o
diretor assistente, assustado ao ver Dana desacordada e toda suja
de sangue sendo fortemente abraçada por Mulder.

_ ...

_ E quanto a todo esse sangue? Ela está ferida?

_ Scully os contatou há meia hora?

_ Sim... o que está havendo aqui?

Mulder sorriu tristemente consigo mesmo. Dana não poderia ter
ligado para ninguém. Estava nos braços de Mulder pelo menos nas
últimas duas horas, e seus aparelhos tinham pifado. Ele havia entendido.

_Sempre cuidando de mim..._ Fox disse, baixinho. Beijou novamente a testa de
Scully e, com a face encharcada de lágrimas, deixou que os outros agentes a
levassem. Apesar da dor, sentia-se estranhamente conformado. Era como se
aquilo não tivesse de fato acontecido e que Scully estivesse bem ali,
pertinho dele, como tinha sido durante os sete anos de trabalho juntos.

Podia sentir sua presença, até seu perfume. Skinner, percebendo
o que houvera, não sabia o que dizer. Apenas caminhou ao lado de Mulder,
procurando palavras, que não foram encontradas. E nem eram necessárias.

Link: Change of Plans Parte 1

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