Título: Inevitável
Autora: MiMulder
Classificação: MSR, SA, MA (pós Existence)
Censura: Livre
Resumo: Hum, uma fic pós Existence docinha e cheia de boas intenções... :)
Disclaimer: Fox Mulder e Dana Scully não pertecem a mim, mas à Fox, ao CC... ao DD e à GA, que faz drama como ninguém... rs... eu adoro um draminha. Ops, isso me lembra Dramim, hehhe... (piada beXta)
Notas: Sunny, você não existe! Muito obrigada, miga!! Sinceramente, não terminaria essa fic se não fosse você.
Obrigada pela inspiração via e-mail :*
San, mãezinha querida do YM, essa fic é pra ti também. Continue escrevendo :)
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Inevitável
2:02 AM
Apartamento de Scully
Scully não conseguia dormir. Não era o bebê, William dormia tranqüilo em seu bercinho. E segurava firme o dedo indicador de sua mãe, que o observava maravilhada. Ele era tão pequenino e frágil... Ela acariciou os diminutos dedinhos com o polegar e sorriu. Aquela criança... Era sua, seu pequeno milagre. Agora era mãe. Mãe. Aquela palavra significava muito pra ela. Significava a realização de um sonho que considerava utópico. Tentativas frustradas... Tanto sofrimento...
Mas agora podia esquecer tudo isso e apenas ser mãe... A idéia de que poderia acompanhar o crescimento de seu filho, educá-lo e amá-lo, ouvir suas primeiras palavras e acompanhar seus primeiros passos trazia-lhe lágrimas aos olhos. E foi assim, emocionada, que com um leve movimento desprendeu seu dedo da mão de William e se debruçou na janela.
Olhou pra baixo, para a rua pouco movimentada. Algumas pessoas passavam eventualmente, alheias à felicidade que estava sentindo naquele momento. Estava inquieta, pensativa sobre os eventos da noite anterior. Deixou seus pensamentos vagarem para ele... Mulder. Como fora lindo vê-lo segurando William nos braços, desajeitado e com o olhar brilhante. Aquele lindo sorriso que ela bem conhecia estampado no rosto. Lembrou-se de cada palavra que ele havia dito. A verdade... a verdade que só eles dois sabiam. Sorriu novamente e olhou para o bebê. Lembrou-se do beijo da noite anterior e passou os dedos pelos lábios delicadamente, como que querendo se recordar do suave toque dos lábios de Mulder sobre os seus. Fora um beijo terno, porém apaixonado, que expressava sem palavras tudo o que sentiam. E havia sido ainda mais especial porque William presenciara tudo. Naquele momento ela sentiu como se fossem os três uma família feliz.
Scully olhou para o céu estrelado. Sentia uma paz tão grande... Parecia que enfim teriam uma vida normal. Mulder poderia se despreocupar com os Arquivos X, apesar daquele trabalho ter sido sua vida. Mas ela prometeria a ele que trabalharia para que seu departamento fosse devidamente valorizado. E usaria tudo o que aprendera com ele durante os oito anos de convivência para que os casos não fossem subestimados. Ele abrira seus olhos, derrubara grande parte do muro de ceticismo que havia ao seu redor. Aprendera com ele que há coisas muito além do que a Ciência pode comprovar. E que milagres podiam muito bem acontecer. William era a prova viva disso.
Ficou ainda vários minutos contemplando o céu e a lua cheia, que banhava a paisagem de prateado. Até que, vencida pelo cansaço proveniente de toda tensão pela qual havia passado, sentiu sono e resolveu dormir. Mas não sem antes dar uma última olhada no berço de seu filho, que dormia como um anjo. Beijou a testa do bebê e se entregou a seus sonhos.
Sonhou que estava em uma casa ampla e iluminada por alegres e brincalhões raios de sol da manhã, que batiam nos móveis claros da sala de estar. Um cheiro delicioso de café pairava no ar. Viu-se em pijamas de seda azul clara, pantufas fofas de algodão nos pés. Nada de maquiagem, os cabelos presos no alto da cabeça, um sorriso no rosto. A porta da frente estava aberta e ela a atravessou. Do lado de fora, um grande campo gramado e florido. Flores de inúmeras espécies enfeitavam a entrada da casa, e uma sebe multicolorida se estendia ao redor do quintal. Scully foi de repente abraçada pelas pernas e olhou pra baixo num impulso. Dois olhinhos verde-escuros olhavam alegremente pra ela. Era William, com aparentemente três anos. Trazia um bonito girassol nas mãos, quase de sua altura, e o estendeu à mãe, dizendo:
_ Pra você, mamãe!
Ela se abaixou e afagou os cabelos castanho-acobreados de seu filho, o abraçando com ternura.
_ Oh, obrigada, meu anjo!_ disse, pegando a flor com delicadeza. O menino sorriu satisfeito, beijou com um estalo a bochecha da mãe e foi brincar entre as flores do quintal.
Tão logo se levantou, sentiu braços fortes envolverem sua cintura por trás. Virou-se e viu Mulder. Notou como os olhos de William se pareciam com os do pai... A semelhança a fez sorrir. Mulder sorriu de volta, colocando uma pequena margarida atrás da orelha dela e desejando bom dia. Ela o respondeu e ele segurou seu rosto, beijando-a longamente. Depois comentou:
_Ele está crescendo, não?
Scully abriu os olhos e mordeu o lábio inferior.
_ Sim... E está ficando galanteador como o pai_ disse, mostrando o girassol que havia ganho.
Ele pegou a grande flor e riu, colocando-a próxima à pequenina margarida na orelha dela.
_ É... Acho que ele ganhou essa parada aqui...
Os dois riram, olhando o menino brincar distraído sobre a grama. Sentaram-se na varanda, contemplando o dia tranqüilo. As mãos entrelaçadas e a cabeça de Scully repousando levemente sobre o ombro de Mulder. Ele acariciava seus cabelos... Uma leve brisa batia em seus rostos... E nessas horas eles não precisavam dizer nada. Nada...
Scully acordou em seu apartamento em Washington quase no horário que costumava acordar para ir ao trabalho. Alguns hábitos eram difíceis de se contornar, apesar de não precisar por uns tempos do irritante despertador para acordá-la todos os dias. Mas... que maravilhoso sonho tivera! Um daqueles sonhos dos quais a gente não quer acordar. Virou-se para o lado e... Estaria ainda sonhando? Mulder estava sentado na beirada de sua cama, olhando pra ela.
_ Mulder?_ indagou, esfregando os olhos.
Ele apenas sorriu. Mas era um sorriso estranho, triste. Eram tantos anos que Scully sabia bem perceber quando alguma coisa estava errada com seu parceiro, através dos mais mínimos gestos. E, principalmente, através do olhar. E naquele dia os olhos verdes estavam sombrios, enigmáticos. Ela não estava gostando. Franziu as sobrancelhas e perguntou, temendo a resposta:
_ O que está fazendo aqui?
Ele se aproximou e acariciou seus cabelos revoltos, dizendo:
_ Não quis acordá-la, então usei minha chave para entrar no apartamento. Fiquei aqui te olhando dormir... Fui eu que te acordei?
_ Não, não... força do hábito... É mais ou menos este o horário em que acordo pra ir ao... trabalho..._ respondeu Scully tristemente, ao visto que Mulder nada mais tinha a ver com seu emprego. Não havia se acostumado a vê-lo afastado dos Arquivos X. Ele, por sua vez, notando seu embaraço, meneou a cabeça sorrindo e mudou de assunto. Aliás, não seria fácil conversarem sobre o que ele queria falar, mas era preciso.
_ Scully, eu... nós precisamos conversar.
Ela sentiu um nó desconfortável na garganta.
_ Sobre o quê?
_ Sobre nós. Mas... Vou te dar um tempo pra que desperte completamente, e pra que dê uma olhada no William... _ele sorriu_ passei pelo bercinho e ele estava mexendo as perninhas... O cobertor e as meias estavam jogados de lado...
Scully mostrou um sorriso amarelo e levantou da cama preocupada. "Tempo pra que desperte completamente?" Ela já estava bem acordada, depois da estranheza de Mulder. Mas fez como ele disse. Primeiro foi até William, que estava coberto e com as meias nos pezinhos. Mulder provavelmente pusera tudo de volta. Passou as mãos devagar pelo rostinho do bebê e o deixou dormindo. Foi ao banheiro e se ajeitou. Depois se dirigiu ao sofá, onde Mulder já a esperava. Sentou ao lado dele, apreensiva, e os dois ficaram somente olhando um para o outro por um tempo. Ele mantinha os lábios apertados e, finalmente, falou:
_ Scully, isso é incrivelmente difícil...
- O que foi, Mulder? Diga logo..._ ela o encorajou, segurando sua mão. Mas nem mesmo sabia se ela própria estava preparada pra ouvir.
_ Você sempre esteve ao meu lado... Sabe de tudo por que passei... Desde o começo de nossa jornada juntos nos Arquivos X... Mas... Essa última experiência que vivenciei... A abdução, os testes... É algo que não vai ser apagado facilmente.
_ Eu sei sim. Mas... onde quer chegar?_ perguntou, receosa.
_ Eu... vou ter que partir... Por sua própria segurança e a de William. Não posso ficar aqui...
Depois dessas palavras ela não conseguia mais raciocinar. As lágrimas vieram aos olhos imediatamente. Mas não deixou que caíssem. Mulder falava coisas que não conseguia entender por causa do desespero que tomava conta de seu ser. Então, tentou se concentrar e ouvir tudo o que ele tinha a dizer. Precisava de controle... Mas como, depois do que havia ouvido? Estava prestes a perdê-lo... Aquilo não podia estar acontecendo.
_ Scully, você está me ouvindo?_ perguntou Mulder, puxando o rosto dela pelo queixo em sua direção. Só aí ela percebeu que estivera olhando pro outro lado, e que lágrimas já escorriam por seu rosto. Enxugou-as depressa e o encarou.
_ Por quê?_ disse simplesmente, e abaixou a cabeça.
_ Eu sempre procurei pela verdade, desde quando entrei nos Arquivos X. No fim do ano passado eu me deparei com ela de um jeito muito mais profundo... Eu fiz parte dela. E vi demais. Estou correndo perigo, e também estará quem estiver comigo. E eu não quero isso pra vocês. Tenho que proteger você e nosso filho, mesmo que isso signifique estar longe de vocês.
Mulder havia usado a frase "nosso filho" pela primeira vez. E Scully entristeceu-se por ter sido em uma ocasião como aquela. Começou a chorar sem controle. Queria tanto que eles pudessem viver juntos e felizes, levando uma vida simples, como no sonho que tivera... na verdade era só o que queria.
_ Mulder, não entendo... você não tem que... Não, eu não quero. Preciso de você, tem que ficar aqui conosco. Tem que ficar comigo... Sofri tanto sem você, rezava todos os dias pra que voltasse pra mim, pra que pudéssemos ficar juntos de novo. Não pode me fazer passar por isso de novo. Você não vai...
_ Scully, ouça...
_ Não, eu não quero ouvir!_ interrompeu ela, com as mãos sobre os ouvidos.
_ Seja racional, eu também não queria fazer isso. Mas é preciso, eu já disse...
_ Racional, Mulder?_ interrompeu, novamente._ Não, chega! Cansei de ser racional. Cansei de procurar razões pra tudo! Eu te amo, e isso não tem nada a ver com razão. Isso tem a ver com o coração, e foi você quem me ensinou isso. Foi você quem me mostrou que eu ainda sou capaz de sentir isso por alguém. Não pode me deixar agora. Por favor...
Ela o abraçou, num choro convulsivo. Parecia uma adolescente boba, mas não se importava. Era assim que se sentia ao lado dele. Apenas uma garota apaixonada. Ele tinha o dom de despir o véu de frieza e racionalidade com o qual ela se cobria para sobreviver e ser respeitada no FBI. Não queria ser vista como um ser frágil e menos capaz só por ser mulher. Mas perto de Mulder não ligava mais pra isso. Ele sabia como ninguém o quanto Scully era capaz como profissional e a conhecia muito bem como pessoa. Então, para ele, se mostrava por inteiro.
Ele correspondeu ao abraço, apertando-a contra o peito. Suspirou, sentindo-se péssimo pela dor que estava causando àquela mulher. E também por si mesmo, já que ela era a pessoa mais importante de sua vida e, agora, também William. Sabia que iria sofrer muito, mas tinha que focar a segurança dos dois.
_ Scully, eu também te amo. Muito. Mas, desde que cheguei tenho sido ameaçado. Eu fui uma parte do projeto. E agora sou uma prova ambulante. Eles pensavam que eu não iria sobreviver, mas estou aqui, e agora sou um perigo pra eles.
_ Mas você sempre foi, Mulder... por que tem que ir agora?_ insistiu ela, mesmo sabendo que havia feito uma pergunta idiota.
_ Agora é diferente, você sabe. Antes eu era testemunha de alguns eventos, mas não tinha provas conclusivas e o que dizia era facilmente descartável... Agora eu sou a prova... tem muita gente envolvida nisso... há agentes me observando todo o tempo... e a você também, por causa da ligação que temos. Não quero isso pra você. Eu devia ter ido antes, mas não podia deixar de ver William nascer... nosso filho... agora você precisa de tranqüilidade para cuidar dele. Não sabe o quanto gostaria de ficar ao seu lado pra ajudá-la nessa tarefa..._ disse ele, com os olhos cheios de lágrimas, sorrindo. E continuou:
_ Eu já te disse que ele tem seus olhos, não?
_ Sim... _ respondeu Scully. _ Mas acho que vai ter os seus quando ficar maior....
_ Por que diz isso?_ Ele perguntou, surpreso.
_ Não sei... só um palpite._ Respondeu ela novamente, sorrindo, sem encará-lo.
Mulder colocou a mão sob seu queixo e ergueu sua cabeça, fazendo-a olhar bem dentro de seus olhos.
_ Lembra da conversa que tivemos na primeira noite que passamos juntos?
_ Sim, você me disse que...
_ Eu disse que nunca saberíamos quantas vidas diferentes levaríamos se fizéssemos escolhas diferentes._ Interrompeu Mulder_ Mas logo depois você falou que talvez houvesse somente uma escolha. A escolha certa, que nos levaria ao momento certo, que seria exatamente o momento que estamos vivendo agora. Você acredita nisso, Scully?
Os olhos dela se encheram de lágrimas de novo. Mas dessa vez ela não se rendeu. Mesmo no momento drástico pelo qual estavam passando, ela reuniu forças para erguer a cabeça e encará-lo, dizendo com firmeza:
_ Acredito.
_ Eu também acredito. A única certeza que tenho na vida é que as escolhas que fiz me trouxeram ao lugar certo. E não importa o quanto reclamei das situações difíceis, o quanto me entreguei quando me senti fraco, quantas vezes caí. O importante é que você sempre esteve lá pra me ouvir, pra me dar forças, pra me erguer de novo. E, Scully, não importa o que aconteça, meu lugar certo sempre vai ser ao seu lado. E minhas escolhas sempre me trarão de volta a você.
Ela abriu a boca, mas nenhuma palavra saiu de seus lábios. Apenas apertou forte as mãos de Mulder nas suas. Ele continuou, aproximando-se do rosto dela e frisando cada palavra:
_ Eu vou voltar.
Nenhuma palavra. Ela tomou seus lábios com amor e urgência, lágrimas quentes que não conseguiu conter escorriam por seu rosto e se misturavam às dele. Mulder sabia que aquilo era uma resposta. Sabia que Scully o compreendia e sentia o mesmo, e sabia que ela confiava nele. E naquele momento sentiu-se renovado, forte. Aquele pesadelo acabaria e ele voltaria, com certeza. "Inevitável", pensava. Inútil lutar contra algo já predeterminado. "Sou seu, Scully."
Os dois se abraçaram novamente, e se entregaram ao tempo por instantes, sentindo o calor um do outro e a segurança do amor mútuo e sólido que tinham em seus corações. Sonhos vagavam em suas mentes. Sonhos que se colidiam, que convergiam ao mesmo destino inevitável:
Ficariam juntos de novo.
FIM
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