O homem hesita por um instante e convida Mulder a entrar.
A casa continha móveis antigos. A claridade do dia não adentrava o interior por isso tinha um pouco de cheiro de mofo. O senhor Moonwalker pede que Mulder sente-se; e vai até um cômodo da casa. Volta com uma xícara de café e oferece a Mulder. Ele aceitou. O homem percebe o ar de inquietude dele e fala primeiro:
- Quer dizer que se interessa por viagens temporais rapaz?
- Bem, eu me interesso por muita coisa. E por isso li sua teoria. Gostaria de saber se senhor sabe de algum caso verídico de viagem através do tempo ou algo similar.
- Viagem através do tempo é algo que todo mundo pensa em fazer. O homem é um ser curioso e sempre pensa na possibilidade de viajar para o passado ou futuro com intuito modificar algo errado que tenha acontecido ou saber o que nos espera pela frente e se prevenir se for ruim, para modificá-lo.
- Mas o senhor disse que sabe de casos...
- Sim Eu mesmo já o fiz.
- E como posso saber se é verdade? Como pode provar isso?
O homem fixa seu olhar no olhar de Mulder durante alguns minutos. Mulder se incomoda. Senhor Moonwalker não desvia o olhar.
- Acha que sou homem de brincadeiras senhor Mulder? Não preciso provar. As pessoas com as quais ocorrem estes fenômenos, não querem provar nada. Elas perceberam que experienciaram algo único e dependo do resultado, não querem que ninguém o faça. Pode ser algo traumatizante. Algo que pode deixar marcas. Mas o porquê de seu interesse por este assunto?
- Bem, eu nem sei ao certo se o meu caso se encaixa neste assunto. Principalmente porque eu permaneço no mesmo semana e ano em que me encontrava. O senhor acha possível alguém, não voltar ao passado, ou ir para o futuro, mas mudar sua vida, ou melhor, estar vivendo uma vida que não é sua, ou melhor ainda, é sua, porém ele nunca viveu, ou acha que não viveu?
- Por que não me conta desde o começo, senhor Mulder?
- Eu estava com minha... Eu estava, há três dias, num quarto de motel com uma amiga. Durante a noite eu dormir e no dia seguinte estava em outro lugar, com outra pessoa. Com outra vida. Pessoas que já haviam morrido estavam vivas. Pessoas que eram minhas inimigas estavam próximas a mim. E pessoas que viviam intimamente comigo já não estavam mais e nem me conheciam. Como isto é possível? De um hora para outra eu mudar de vida assim? O senhor fala de volta no tempo por meio de um ritual que necessita de muita concentração. É como se nos pudéssemos escolher voltar no tempo e isso ocorreria. Tudo bem, mas eu não voltei no tempo; estou no mesmo ano anterior, no ano de 2003.
- O senhor me disse tudo? Não esqueceu nada?
- Como assim?
- As coisas não acontecem assim, sem mais nem menos senhor Mulder. Algo deve ter desencadeado, começado tudo. Nada acontece por acaso.
- Já pensei nisso. Como disse, estava com minha amiga. Nós passamos por muitas situações juntos e eu não queria que ela estivesse da maneira em que se encontrava. Estava aflito e pesaroso, por proporcionar tantas infelicidades a ela. Então, pensei em algo que discutimos há alguns anos antes. Se no passado tivéssemos feito escolhas diferentes, chegaríamos no mesmo lugar fazendo as mesma coisas? Naquele momento escolhi outra vida para nós dois. Mas isso seria o suficiente para causar isso porque passo agora?
- Se o que pediu foi tão intenso, se o seu desejo foi tão grande o suficiente, não vejo porque não. Senhor, o poder de nossa mente é tão grande que nenhum cientista foi capaz ainda de medi-lo ou desvendá-lo. A mente e o coração humanos são coisas que e a tecnologia ainda tentam abarcar. O mistério que possui nosso cérebro é tamanho. Já se descobriu muito a seu respeito, porém tudo o que ele pode fazer ainda não se sabe. Telecinese, telepatia, curas , viagens temporais? Quem sabe? Por que não mudar o mundo à nossa volta com o poder da mente? Voltar no tempo, mudar a realidade, algumas pessoas podem fazer isso controlando suas mentes. O senhor pode ter feito isso involuntariamente.
- Mas por que eu me lembro de tudo? Se realmente isto me está acontecendo por que Scully, que viveu tanto tempo comigo e estava comigo naquela hora, não se lembra nem de meu nome?
- Porque, talvez, o desejo foi seu. Porque, talvez, de acordo com as escolhas que vocês fizeram, seus caminhos não se entrelaçariam. Então, ela não teria que se recordar de você. Não podemos recordar de alguém ou algo que nunca vimos. As pessoas, lugares ou coisas que não vimos antes, é como se elas não existissem para nós.
- Quer dizer que eu terei que viver assim, com lembranças de uma vida que vivi e de pessoas que conheci sem que elas me reconheçam?
- Talvez sim, talvez não. Há algo mais que esteja acontecendo.
- Ontem vi umas fotos minhas e de outra pessoa. Eu nunca tirei aquelas fotos. Mas quando as olhei lembrei-me do dia, do local onde estávamos. É como se eu tivesse vivido aquilo, no entanto, aquilo não aconteceu. Depois, hoje pela manhã, conversando com alguém, mencionei certas coisas que de maneira alguma poderia saber. A verdade é que no dia anterior eu nem saberia falar a respeito.
O homem abaixa a cabeça. Fica calado. Mulder faz gesto de abrir a boca, quando ele diz:
- Quem sabe não será só sua amiga que vá esquecer, mas... Mas o senhor também. Pode ser que sua mente esteja conhecendo ou reconhecendo sua vida nova, como sua. Você pode estar tomando seu novo lugar gradativamente e tudo que lhe é estranho vá passar a ser familiar, íntimo e natural.
- Mas, o senhor tem certeza?
- Filho, estou falando apenas de possibilidades.
Por um instante Mulder ficou tomado por um medo, pavor mesmo. Tudo que ele vivera até ali iria embora como se nunca houvesse ocorrido? Não haveria volta? Scully não o conhecia e ele passaria a esquecê-la? Lembrou-se de que na noite anterior quase fez amor com Diana. Naquele momento, ali, na cama, por alguns minutos sentiu que a amava, que a queria... Ele esqueceria Scully? E sua nova vida? Parecia que ele estava do outro lado agora. Canceroso, Kersh eram seus aliados, aliás, ele era aliado deles. Era esta a sua escolha? Se unir aos homens que ele julgava serem escória? Não. Não era isso que ele queria. Não era isso que ele era. Haveria um jeito de mudar. Dirigiu-se ao homem:
- Diga-me como volto. Como adquiro minha vida outra vez.
- Não há uma técnica. Além do mais, o seu caso não é de viagem temporal. Talvez se seu desejo de voltar for tão intenso quanto o que teve antes de ocorrer isso tudo...
- Mas como as pessoas que já viveram essa anomalia temporal retornaram?
- Às vezes casualmente. Outras vezes como o senhor, apenas desejando.
Mulder encontrava-se inconformado. Tinha que achar uma solução. Imaginou que sua ida ali fosse lhe ajudar. Contudo, não o levou a lugar algum.
Saiu da casa do senhor Moonwalker e foi direto para o FBI. Enquanto pensava numa saída, decidiu que podia resolver outras coisas.
16 horas e 24 minutos
Victoria Palace Hotel
Scully Acabara de chegar da conferência. À noite teria um coquetel de encerramento, porém ela não queria ficar. Deveria ir para casa só no dia seguinte. No entanto, não queria esperar mesmo. Conseguiu trocar as passagens.
18 horas e 40 minutos
Tropical Garden
Boston
Residência dos Clooney
Scully chega em casa. Sua filha corre ao seu encontro e dá-lhe um abraço interminável. A saudade que estava de sua filha também era imensa, por isso, as duas pareciam não querer se afastar uma da outra.
- Olá, meu amor! A mamãe não aguentava mais de tanta saudade. – Disse Scully acariciando o rosto da criança.
- Eu também mamãe. Que bom que veio antes. Já estava cansada de ficar brincando e conversando com a Paty. Ela é legal, mas mãe é mãe, né ?
- Mas o seu pai não já chegou?
- Não. Por quê? Ele devia ter chegado?
- Deixa para lá. O que você andou fazendo enquanto estive fora? Não deu muito trabalho a Paty, deu?
- Lógico que não, mamãe. Já sou uma mocinha né?
- Ah! Lógico. Como me esqueci disso, mocinha. – E abraçou a menina mais uma vez - Agora preciso tomar um banho.
- Posso tomar com você?
Scully a olha com ar sério e disse:
- Só se prometer que não vai brincar de dar banho em suas bonecas.
- Vou ignorar o que está dizendo, Dra. Scully. A mocinha aqui não se esqueceu de suas recomendações.
As duas subiram as escadas. O pensamento de Scully está longe. Mais precisamente, preocupado em descobrir onde Brad estava e por que havia chegado em casa ainda. Afinal de contas, saíra ontem à noite dizendo que teria uma operação a fazer. E que iria direto para casa.
Após o banho, ligou para o hospital onde Brad trabalhava. Ele não estava lá. Disseram que ele estava viajando e ainda não voltara. Dentro de Scully começou a manifestar-se uma inquietação. Um sentimento que ela não sabia identificar. Perguntou pela paciente que ele operaria. Informaram-lhe que a senhora Kubrick, estava passando bem e até fez uma viagem para casa de parentes. Scully não sabia o que pensar. O que estava acontecendo com seu marido? Decidiu ligar para seu laboratório. A secretetária atendeu.
- Alô, Cinthya! O Brad apareceu por aí.
- Sim, senhora Clooney. O senhor Clooney na verdade está aqui. Quer que o chame?
Scully hesita por um momento e diz:
- Não. Não precisa. Muito obrigada. Até mais.
- Até mais, senhora Scully.
- Ah! Cinthya, não diga que liguei.
- Sim , senhora.
Scully não sabia ao certo por que pedira aquilo. Ficou parada pensando. Sua filha abre a porta do quarto e lhe pergunta:
- O que há mamãe?
- Nada querida. A mamãe vai sair. Mas daqui a pouco estará de volta.
- Mas, você mal acabou de chegar...
- Eu volto logo, meu amor. Vestiu-se e saiu.
20 horas e 23 minutos
Laboratório Racionalis omnibus
Scully chega. Cinthya já saiu. Mas percebe-se que há alguém ainda no local. Ela entra em sua sala e de Brad. Não há ninguém lá. Ouve vozes. Decide ver de onde provinham aqueles sons. Caminha em direção ao almoxarifado. Abre a porta. As vozes estavam mais nítidas agora. Há uma discussão. Brad está com alguém ali. Ela não sabe se continua ou recua. Não sabe o porquê, mas está temerosa. Continuou. Quando se aproxima dos dois homens, Brad assusta-se. O homem que estava com ele lhe era estranho. O certo é que aquela situação era estranha. Seu marido deixa transparecer que não esperava sua presença ali. Por um instante, pensa ter visto um temor em sues olhos.
- Querida, o que faz aqui? Não esperava você tão cedo. Disse Brad, com a voz um tanto trêmula. Você poderia me esperar em nossa sala?
Scully não diz uma palavra. Não sabe mesmo o que dizer, ou se tinha algo a dizer. Vira-se e sai.
Ao sair nota um vulto em sua sala. Encaminha-se em sua direção. Quando faz menção de abrir a porta, a senhorita, Cinthya Timolte a abre primeiro. As duas assustam-se com suas aparições inesperadas.
- O que ainda faz aqui, Cinthya? – Perguntou Scully.
- Eu havia se esquecido de trazer alguns relatórios que o senhor Clooney me pediu.
Scully resolve investigar mais:
- O senhor Clooney está com um homem no almoxarifado, você sabe quem é.
- Ele já veio aqui anteriormente. Não sei o nome dele, pois não se apresenta e o senhor Clooney, geralmente, já o está esperando quando ele chega aqui.
- Desde que horas eles estão aqui?
- Ficaram o dia inteiro. Outros homens vieram também – acrescentou ela – mas já foram. Posso ir agora? Já está tarde. Amanhã terei que estar cedo aqui de novo.
- Tudo bem. Boa noite.
- Boa noite, senhora Clooney.
Dana Scully entrou em sua sala sentou-se e ficou esperando seu marido. Tinha muitas perguntas a fazer e tinha medo das respostas. Brad nunca havia mentido para ela. Pelo menos era o que pensava. Se o tinha feito outras vezes, não tinha conhecimento. Primeiro, mentiu sobre sua paciente, agora este homem estranho e outras pessoas que estavam vindo ali sem que ela soubesse... Neste momento ele tinha muitas coisas a lhe explicar.
Brad minutos depois, entra na sala. Para em frente a Scully e tenta disfarçar.
- Bem, o que levou você a vir aqui a uma hora dessas?
- Acho sou eu que tenho perguntas a fazer a você e não você a mim. – Estava séria e tentou mostrar a ele o quão indignada estava também - O porquê de tudo isto, Brad?
- Do que está falando? Trabalho até tarde de vez em quando. Você sabe disto. Nós temos alguns assuntos pendentes a serem resolvidos com nossos fornecedores...
- Por que mentiu? – Ela o interrompeu – Não havia nenhuma paciente sua precisando de operação, muito pelo contrário, pelo que eu soube, ela está muito bem. Então, você resolve também passar o dia inteiro aqui com pessoas que eu não faço a menor idéia de quem sejam. Você anda mentindo para mim. Há quanto tempo? Diga-me, por favor, o motivo de toda esta história.
Ele não sabia realmente o que dizer. Faltavam-lhe palavras convincentes que a pudessem convencer.
- Eu... Eu não posso lhe dizer. – Confessou ele- Dana, a única coisa que posso garantir é que tudo que faço é para o seu bem e o da Lilian. Só gostaria que não me perguntasse mais nada. Porque não vou dizer nada.
Ele não queria ser tão duro com ela mas não tinha muita opção. Mentir? As mentiras que já tinha dito a levara até ali. Não dizer nada era o mais sensato a fazer. Apesar de isto poder afastá-la dele por um momento.
Os dois ficaram se olhando por um instante. Ela não esperava tal resposta. Ela vai em direção à porta e se retira sem se despedir.
No caminho para casa Scully tem vontade de chorar. Dois eram os motivos: primeiro a raiva por Brad nem sequer lhe dar satisfação; o segundo, por descobrir que não conhecia o marido como pensava. No meio do caminho dá meia-volta.
Algo a incomodava a voltar ao laboratório. O marido já havia saído. Vai direto ao almoxarifado. Ela lembrara que Brad ao vê-la, imediatamente guardou um envelope em uma gaveta. Tenta abri-la. Está fechada e não tinha as chaves. Vai à sua sala e procura um molho de chaves que sempre ele usava quando ia ao almoxarifado. Pega-o. Depois de usar várias chaves, ela consegue abrir. Havia ali vários envelopes. Muitos papéis com relações de nomes numerados de pessoas, suas datas de nascimento, local de moradia. Não compreende o que significa. Nem quem eram. Sente-se tentada a retirá-los dali. Pensa um pouco, hesita. Não pega todos os documentos, para que o marido não suspeite.
Quando ia sair do local, ouve um barulho. O medo apossa-se dela. Aquilo, para ela, é novo. Investigar o próprio marido? Aquele laboratório pertence a ela e agia como se fosse uma intrusa, uma ladra, como se estivesse fazendo algo errado. Apaga as luzes. Aquieta-se por um momento. Esperou até que houvesse a hora oportuna para sair. Quando trancava a porta do laboratório, alguém pôs a mão em seu ombro. Ela congelou de sustou.
- Boa noite, senhora Clooney! – Era o segurança do local -Não esperava a senhora por aqui hoje, a esta hora. Ouvi um barulho; quando fui ver quem era, observei que seu carro estava aí. Então, fiquei tranquilo. Está tudo bem?
- Boa noite, Jhon. Está tudo bem sim. Até amanhã.
- Até amanhã.
Refeita do susto, ela entra no carro e se vai. Não sabia o que ia fazer com aqueles papéis. Bom, ela não sabia a respeito de muita coisa.
Quando Scully chega em casa, vai para o escritório e examina os papéis que encontrara.
Brad que estava acordado ouviu-a chegar desce.Encontra-a mergulhada sobre os documentos. Questiona-a e ela diz com certa raiva:
- Como não me diz a verdade, como resolveu esconder de mim sua vida, decidi descobrir por conta própria. Será que agora você vai me dizer exatamente o que está havendo? Pode me dizer o que significa isto?
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